quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Quero me tornar um escritor


Frequentemente tenho recebido e-mails – principalmente de jovens – dizendo que gostariam de ser escritores e o que deveriam fazer para, em definitivo, abraçar essa profissão.
Acho que se me perguntassem o que deveriam fazer para tornarem-se médicos, advogados ou engenheiros, a resposta seria muito mais fácil. Afinal, são daquelas profissões chamadas de “convencionais” que estaríamos tratando. Profissões cujo sucesso depende, em grande parte, de dedicação, esforço, estudo, aprimoramento e – é claro – um pouco de sorte. A tal teoria “em se plantando, tudo dá”.
Não se pode dizer o mesmo para quem deseja ser escritor, mormente num país como o nosso, cuja população praticamente não lê e no qual as coisas referentes à arte são quase sempre vistas através de um olhar enviesado e desconfiado.
Há vários motivos para que essa tão difícil pergunta me seja feita. Surpreendentemente, o mais comum é que os jovens imaginam que a vida de um escritor seja muito semelhante à de uma dessas celebridades do cinema e da TV, que vivem cercadas de holofotes, sempre com as burras cheias de dinheiro, com as carícias da fama e as comodidades da fortuna.
Ledo engano... Devo salientar que, em primeiro lugar, “fama” não obrigatoriamente significa “fortuna”. Segundo, “Paulos Coelhos” são avis rarae, não se encontram pelas esquinas. Um escritor que venha a vender milhões de exemplares, especialmente brasileiro, é um fenômeno editorial que surge na proporção de um em cada século. E, note-se bem, esse sucesso financeiro quase nunca está atrelado a uma excepcional qualidade literária, o que quer dizer que o mérito é muito relativo e tal sucesso está muito mais relacionado à área de marketing do que a qualquer outra coisa.
A esses aspirantes a escritor que vislumbram uma vida de holofotes e dinheiro saindo pelo ladrão, quero dizer apenas que a realidade da literatura é bem diferente... Pode ser que aconteça a fama, pode ser até que a deusa Fortuna venha a lhes sorrir. Porém, o mais provável é justamente o oposto. Essas duas entidades – Fama e Fortuna – haverão de lhes cobrar e muito. É preciso preparo, dedicação, perseverança e, sobretudo, fé e investimento em seu próprio trabalho.
Estamos no Brasil e, como já disse, nesta abençoada Terra de Vera Cruz, as editoras – e editores – não se interessam pelos novatos, não se arriscam em investir a não ser em autores que já contem com um público fiel – e numeroso – capaz de garantir as vendas de livros.
Ao autor incipiente não resta alternativa senão “bancar” a sua própria edição.
A princípio, isso pode parecer cruel, mas no frigir dos ovos, a coisa não é tão ruim quanto parece. Em primeiro lugar, o autor passa a ter absoluto controle sobre a sua publicação, desde o modo como foram feitos a revisão e o copidesque, até a forma de divulgação e vendas dos exemplares.
Boje em dia, com as facilidades que nos apresenta a Internet – como por exemplo as vendas através de livrarias virtuais e divulgação em massa de qualquer produto, livros inclusive – aumentamos em muito as possibilidades de venda daquilo que produzimos. Resta au jovem escritor escolher uma editora que disponibilize divulgação e e-commerce de maneira decente e honesta. Fugir do esquema das grandes distribuidoras é, hoje em dia, uma obrigação, pois pagar 65% do preço de capa para que o livro seja distribuído é, na minha humilde opinião, um verdadeiro absurdo.
Contudo, como digo sempre, a vaidade do autor é um dos fatores que mais atrapalham a “recuperação” do dinheiro investido na produção de seu próprio livro. E isso porque ele quer ver seu livro nas prateleiras de grandes redes de livrarias, quer que um leitor – na maior parte das vezes um leitor amigo – chegue a uma grande livraria, peça seu livro e seja prontamente atendido. É uma vaidade justificada? Até pode ser... Mas tem um preço e este é, via de regra, bem alto. Há livrarias que chegam a cobrar R$900,00 por semana para que um livro seja exposto...
É o mercado... São as novas regras, não há o que fazer...
O autor deve investir em seu trabalho da mesma maneira que um dentista, ao se formar, tem de investir na montagem de seu consultório. Afinal, é uma profissão que está sendo abraçada e isso tem de ter um custo, tem de obrigar a um investimento.
E exatamente por se tratar de uma profissão, da mesma forma que um dentista não vai tratar um canal de graça, um trabalho literário não pode ser gratuito. Daí eu ser frontalmente contra a mania que surgiu entre os novos escritores de escreverem de graça em blogs, por exemplo, com a desculpa de que, dessa maneira, estarão divulgando suas obras. Tudo bem publicarem graciosamente um ou outro artigo, até mesmo elegerem um blog para publicar de graça artigos e comentários. Mas daí a abrirem para quem quiser ler um romance inteiro, o passo é muito grande e, no meu entender, altamente prejudicial.
O novo autor, seja ainda jovem ou já encanecido e maduro cronologicamente, tem de acreditar em seu trabalho e investir nele.
Porém, antes de tudo, tem de ter a certeza de que realmente deseja tornar-se escritor, de que quer abraçar a atividade literária como profissão e não apenas como um hobby.
Tem de saber que precisa estar preparado técnica e culturalmente para poder ter a segurança de não escrever bobagens e precisa estar consciente de que a vida de escritor, mormente no Brasil, não é nada fácil.
Sendo assim, a resposta à pergunta do título deste artigo fica mais fácil de ser respondida:
Se você quer se tornar escritor – mas um escritor de verdade – comece fazendo um curso sobre o assunto. É de extrema importância “estar por dentro” das técnicas e truques para se escrever um livro que seja, ao menos, economicamente viável. Siga persistindo e acreditando em seu sonho. Isso significa não ter medo de “chutar o pau da barraquinha” e até mesmo trocar de vida e de ambições.
Por fim, procure estar amparado por editor que pense no autor. Que veja o autor e seu trabalho e que seja sincero em seus julgamentos.
Então, terei muito prazer em lhe dar um abraço de boas-vindas a este mundo fantástico, o mundo da literatura e lhe dizer:
– Bem-vindo, colega! Lutaremos juntos nesta terrível guerra que decidimos enfrentar!

Por Ryoki Inoue

4 comentários :

Creio que tudo dependa da vontade. Quem possui vontade, quem acredito no seu trabalho, tem muito mais chance de conseguir realizar os seus objetivos do que o cara que apenas senta e espera um retorno de uma editora, pro exemplo. Ser escritor no Brasil não é fácil mas creio que á espaço para todos no País. Basta que tenhamos inteligência e auto crítica.

Penso muito nisso e após ler um livro de um escritor que gosto muito, passei a acreditar que eu posso. Passe ia desenterrar meus projetos e começar a escrever. Mas escrever por prazer. Porque essa é a chave para se alcançar o que deseja. Amar verdadeiramente aquilo que faz e ouvir as pessoas, ouvir para poder compreender e melhorar. Escrever é um exercício. Eu fico feliz quando alguém me critica, significa que de alguma forma, a pessoa acredita em mim, caso contrário, não estaria criticando. Ser elogiado o tempo todo é chato, você não consegue melhorar e crescer como profissional. Não quero e nunca vou querer o dinheiro como combustível para algum tipo de sucesso. Se apenas uma pessoa me disser que gosta do que eu escrevo e me falar verdadeiramente, já valerá por qualquer dinheiro que eu possa ganhar. Esta profissão poderia ser mais rica se os novos escritores parassem de se colocar num pedestal e procurassem ouvir e compreender. Estudar, procurar pessoas com mais experiência que você não é vergonha. Sábios são aqueles que estão em constante aprendizado, significa que toda estrada caminhada valerá a pena.

Ao menos é isso que creio e por me despir do pensamento de "ganhar dinheiro", por fazer sempre o que eu gosto e só o que eu gosto, ouvindo as pessoas, buscando aprender e ler mais, é que tenho a mais absoluta certeza que estou no caminho certo.

Conheci o Sr no Podcast Ghost Writer, mas já gostei da sua transparência e por dizer mesmo aquilo que pensa! Já admiro muito o Senhor!

Estou ávida por futuras leituras do seu trabalho.

Suas palavras neste blog e em outros veículos são estímulos para pseudo-escritoras como eu que almeja realizar seus objetivos!

É preciso caminhar com pé no chão, mas com humildade para aceitar e aprender!

Bella Felix.

Corrigindo meus erros de digitação:

Creio que tudo dependa da vontade. Quem possui vontade, quem acredita no seu trabalho, tem muito mais chances de conseguir realizar os seus objetivos do que o cara que apenas senta e espera um retorno de uma editora, por exemplo. Ser escritor no Brasil não é fácil mas creio que há espaço para todos no País. Basta que tenhamos inteligência e auto crítica.

Penso muito nisso e após ler um livro de um escritor que gosto muito, passei a acreditar que eu posso. Passei a desenterrar meus projetos e começar a escrever. Mas escrever por prazer. Porque essa é a chave para se alcançar o que deseja. Amar verdadeiramente aquilo que faz e ouvir as pessoas, ouvir para poder compreender e melhorar. Escrever é um exercício. Eu fico feliz quando alguém me critica, significa que de alguma forma, a pessoa acredita em mim, caso contrário, não estaria criticando. Ser elogiado o tempo todo é chato, você não consegue melhorar e crescer como profissional. Não quero e nunca vou querer o dinheiro como combustível para algum tipo de sucesso. Se apenas uma pessoa me disser que gosta do que eu escrevo e me falar verdadeiramente, já valerá por qualquer dinheiro que eu possa ganhar. Esta profissão poderia ser mais rica se os novos escritores parassem de se colocar num pedestal e procurassem ouvir e compreender. Estudar, procurar pessoas com mais experiência que você não é vergonha. Sábios são aqueles que estão em constante aprendizado, significa que toda estrada caminhada valerá a pena.

Ao menos é isso que creio e por me despir do pensamento de "ganhar dinheiro", por fazer sempre o que eu gosto e só o que eu gosto, ouvindo as pessoas, buscando aprender e ler mais, é que tenho a mais absoluta certeza que estou no caminho certo.

Conheci o Sr. no Podcast Ghost Writer, mas já gostei da sua transparência e por dizer mesmo, aquilo que pensa! Já admiro muito o Senhor!

Estou ávida por futuras leituras do seu trabalho.

Suas palavras neste blog e em outros veículos são estímulos para pseudo-escritoras como eu que almeja realizar seus objetivos!

É preciso caminhar com pé no chão, mas com humildade para aceitar e aprender!

Bella Felix.

Muito bom o texto.
Eu queria tanto poder publicar meus livros, mas aqui no Brasil é tão difícil e eu vivo reescrevendo tudo que escrevo(deu para entender? (risos))!

É, a vida de um escritor é complicado. É preciso ter muita vontade e força para conseguir o que quer.

B. Sayuri.

Hoje estou com dez livros (entre e-books), um está na Amazon.com.br , quatro impressos, os demais aguardando editora para publicação.
A vida do escritor tornou-se mais fácil com o advento do e-book, vc paga para preparar a capa, revisão e está pronto para lançamento.
Várias editoras que estão atendendo aos novatos.
Mas cuidado, tem muita picaretagem na internet!

osvandir.blogspot.com.br

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